11 de abr. de 2011

Mentes Perigosas...

     Fugindo um pouco do tema "quimioterapia" e chocada com a barbariedade do crime em escola de Realengo... Fui professora de crianças, tanto no ensino infantil quanto no fundamental... E, mais do que o compromisso moral de solidariedade e antes que apareçam "defensores" destacando a vida difícil e amargurada do assassino Wellington Menezes de Oliveira... Parei esses dias... Minutos de silêncio... Mas nem silêncio consigo fazer direito...  Não paro de pensar... O que levou esse rapaz a  fazer o que fez? Bom, não sou psiquiatra... Mas, não há nada que justifique...
     Não faz muito tempo li o livro: Mentes Perigosas - o psicopata mora ao lado, da Ana Beatriz Barbosa Silva e gostei muito. O livro não é cheio de teorias nem voltado exclusivamente para profissionais da área... É fácil de entender e apresenta algumas situações vivenciadas por vítimas... Dias atrás, postei uma nota no facebook sobre o livro e vou reproduzir aqui:

     O livro alerta para o perigo de psicopatas na sociedade e mais próximos de nós do que imaginamos. Reúne uma coletânea de casos polêmicos e discorre sobre pessoas frias, manipuladoras, transgressoras de regras sociais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão ou culpa. Esses 'predadores sociais' com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social.
     Alguns psicopatas e sociopatas são tão agressivos e violentos, que necessitam internação compulsória e vitalícia, para proteção da própria sociedade e deles mesmos.
     Não existe defesa totalmente segura contra eles. Segundo os psiquiatras muitos atos cometidos com crueldade atuais ou não, podem ter origem nesse mal. O grande desafio é reconhecê-los, devido a capacidade de enganar com perfeição e dizer exatamente o que você quer ouvir, que eles possuem. Você só descobre que cruzou o caminho de um psicopata, após ter sido prejudicado por ele.
     O psicopata não é exatamente um doente mental, mas sim um ser que se encontra na divisa entre sanidade e a loucura. O ser humano normal é movido pelo triângulo: razão, sentimento e vontade. O que move um psicopata é: razão e vontade, ou seja, o que os move é satisfazer plenamente seus desejos, mesmo que isso envolva crimes como: golpes financeiros, roubos, furtos, estupro ou assassinato. Não importa, já que para eles não existe o fato: sentimento.
    Diagnosticar um psicopata não é tarefa fácil, pois o psicopata pode ludibriar, não porque ele seja um superdotado, mas o fato é que ele usa 100% de rendimento de sua inteligência. Explicando: eles não se afligem com nada, não existe neles a catatimia (que é a interferência da emoção sobre a razão ou seja, eles não tem os “brancos” que as pessoas normais tem ao enfrentar uma situação estressante). A racionalidade deles é tamanha que não são pegos em detectores de mentira. Sabem exatamente o que estão fazendo e mentem com naturalidade. Não há tratamento para esses casos. Psicoterapia e psicanálise podem até ensiná-los a manipular com ainda mais maestria, uma vez que aprendem detalhes sobre o comportamento humano. Eles não têm o tipo mais comum de comportamento agressivo, que é o da violência acompanhada de descarga emocional (geralmente raiva ou medo) e nem ativação do sistema nervoso simpático (dilatação das pupilas, aumento dos batimentos cardíacos e respiração, descarga de adrenalina, etc). Seu tipo de violência é similar à agressão predatória, que é acompanhada por excitação simpática mínima ou por falta dela, e é planejado, proposital, sem emoção ("a sangue-frio"). Isto está correlacionado com um senso de superioridade, de que eles podem exercer poder e domínio irrestrito sobre outros, e se consideram mais que os outros, muitas vezes desenvolvem filosofias próprias e místicas, como se fossem escolhidos para fazerem o que fazem...
     Quanto aos seus crimes, cabe a psiquiatria forense avaliar se ele é imputável ou semi-imputável, do ponto de vista jurídico normalmente ele é considerado semi-responsável, indo para um Hospital Psiquiátrico, sendo avaliado de tempos em tempos, para ver se existe a possibilidade de voltar ao convívio social. Mas eles se tornam um problema seja nos presídios, hospitais psiquiátricos e outros.
     A possibilidade de você já ter encontrado um em seu caminho é grande, pois pelas estatísticas da Organização Mundial da Saúde, representam de 1% a 4% da população mundial.
     Psicopatas na história mundial: Jeffrey Dahmer, Ted Bandy, Charles Manson, Richard Ramirez, O Zodíaco (nunca pego ou identificado), John Wayne Gacy Junior (o palhaço assassino – “IT” do livro do Stephen King da vida real), Jack o Estripador (nunca pego ou identificado). Pedro Alonso Lopes (Colombiano acusado de mais de 300 assassinatos), Henry Lee Lucas, Robert Pickton, Erzsebet Bathory (Condessa húngara matou não menos de 650 pessoas durante seus 54 anos de vida), Adolph Hitler, Udai Hussein (filho de Sadan Hussein que mandava torturar jogadores de futebol e cometia atos de sadismo), Dr Josep Mengele (conhecido como Anjo da Morte no campo de concentração de Auschwitz durante a segunda guerra mundial), Dra Herta Oberheuser (Alemanha durante a segunda guerra mundial).
     Na história brasileira: Suzane Louise von Richthofen, Guilherme de Pádua, Champinha, Francisco de Assis Pereira (O Maníaco do Parque), Francisco Costa Rocha (Chico Picadinho).
     No Brasil ainda temos um agravante no item psicopatas, se os mesmos forem “Menor” ao serem descobertos, devido as leis brasileiras, o menor pode ficar no máximo três anos detido, o que na maioria das vezes não ocorre.
     O desafio para se fixar uma idade mínima para a imputação penal é tão complexo que em todos os países do mundo é motivo de muita polêmica e acaloradas discussões... Dependendo da gravidade do crime, podemos observar as diversas idades mínimas para responsabilidade criminal em alguns países:
Austrália e Suíça - 7 anos
Equador - 12 anos
Dinamarca, Finlândia e Noruega - 15 anos
Argentina, Chile e Cuba - 16 anos
Polônia - 17 anos
Colômbia, Luxemburgo e Brasil - 18 anos
EUA - A partir dos 6 anos, cabe ao juiz decidir se o infrator deverá ser julgado como adulto ou não;
Inglaterra - Não tem idade mínima preestabelecida, uma criança pode ser julgada como adulto dependendo da gravidade do crime

     O que fazer com um psicopata que cometeu um crime?
     Ele pode ser novamente colocado em convívio com a sociedade?
     Como identificar um psicopata antes que ele cometa um crime grave?
     E, uma vez identificado como previnir, se não existe uma lei para isso?

    Um minuto de silêncio pelas crianças que morreram no Rio de Janeiro e que nossos políticos, mais do que criticar a venda de armas de fogo e lamentar a violência, criem leis específicas, aprimorem a segurança geral da população e  invistam no diagnóstico e tratamento da psicopatia.
    Eis aí a nota...

    E agora, diante da divulgação pela mídia de trechos da carta deixada pelo assassino e com alguns comentários feitos por especialistas como: Alexandre Rivero, psicólogo especialista em relações humanas, "a carta deixa evidente que há uma ruptura com a realidade". Os indícios levam a crer que o atirador era psicótico e tinha uma doença mental, explica a psiquiatra forense Lícia de Oliveira, do Hospital das Clínicas de São Paulo - O conteúdo místico e religioso da carta é comum nos psicóticos. Os familiares e amigos dizem que ele era isolado. Tudo leva a crer que é um psicótico, que sofre com quebra de realidade.
    E, ainda que hajam diferenças entre psicopatas e psicóticos, é óbvio que Wellington Menezes de Oliveira planejou cada detalhe do crime. Um dos trechos da carta que mais me chamou a atenção foi: “Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado à uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se sustentar, os animais não podem pedir comida ou trabalhar para se alimentarem…”
     Wellington não é um serial killer. É um “assassino em massa”... E nos deixou esse parágrafo para confundir nossos julgamentos simplistas? Ele defendeu tanto que os animais são seres indefesos e merecem proteção, que foi atirar logo em crianças? Suas palavras foram premeditadas, assim como o seu ato foi? Como ele teria alguma compaixão por animais e mataria pessoas?
     O assassino Wellington entrou na escola alegando que faria uma palestra... Como ninguém confirma se haveria tal palestra? Após sua morte foi encontrado em sua mochila uma carta de suicídio com instruções sobre o que as pessoas que encontrariam seu corpo deveriam fazer. Na carta fala-se em repúdio as pessoas não castas e ordem de um funeral semelhante ao realizado por suicidas radicais islâmicos. Ele também fala em perdão de Deus e volta de Jesus, crenças que não são ligadas ao Islamismo. Wellington frequentou a Igreja Testemunha de Jeová até sua mãe morrer, em 2010, a partir de então abandonou a denominação e se fechou ainda mais.
    Com o andar das investigações, familiares, amigos e pessoas que conviviam com Wellington revelam uma transformação na vida do jovem após a morte da mãe: “Ele passou a andar de preto, veio com essa história de religião, deixou a barba crescer”, afirmou o vizinho do assassino. Já segundo outro amigo que não quis se identificar, o assassino afirmava que teria começado a frequentar uma “religião secreta”. Seu primo afirma que na época das Eleições, Wellington já estava com uma longa barba, chegando na altura do peito. Em recente depoimento a polícia, o sobrinho do assassino revelou que após estudar sobre os atentados de 11 de Setembro, Wellington afirmava que faria o mesmo com o Cristo Redentor.
     Para o teólogo católico Leonardo Boff, o assassino era maniqueísta, ou seja, cria uma filosofia religiosa básica que divide o mundo entre bem ou mal.
     Há ainda, alta semelhança entre a carta de Wellington e a do terrorista Mohammed Atta que morreu nos atentados de 11 de setembro: nas cartas é possível ver referências a Deus, repúdio a “impuros”, listas de pedidos após sua morte e distribuição de suas posses por quem precisa. Inclusive, as especificações de funeral são praticamente as mesmas: ambos pediram uma pessoa da mesma crença para sepultá-los, oração para subir aos céus e luvas para quem tocar em partes “impuras”.
     Traduzindo: Para saber exatamente, só se algum médico tivesse examinado o atirador para identificar-lhe a periculosidade. E, ainda que o tivessem examinado... Um psicológo ou outro especialista parece ter atendido o assassino... Em 5 sessões... O que poderia ter sido feito? O que poderia ter impedido esse crime?
     Como fica a assistência ao "doente mental": perturbado, psicótico, sociopata ou psicopata depois desta tragédia?
     Como fica o mercado de armas?
     Será que muda alguma coisa?
     Enfim, deixo-vos... 1 minuto de silêncio...

7 comentários:

  1. Muito bom o texto, bastante explicativo. Concordo muito principalmente com a parte sobre a maioridade penal. Também dou aula para o Ensino Fundamental e Médio, e vejo como as crianças já sabem muito bem o que é certo ou errado, o que podem ou não fazer, devem ou não fazer. E quando o fazem, é totalmente deliberado.

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  2. Olá Sandro, crianças que passaram por traumas podem desenvolver desvios de personalidade e comportamento. Há psicólogos, psiquiatras, terapeutas, enfim, um batalhão de especialistas para acompanhar essas crianças... No caso do Wellington, que era considerado introspectivo e antissocial, preferindo manter-se isolado... E ainda recebeu ajuda: “Ele teve acompanhamento psicológico. Em cinco sessões,diagnosticaram-no como antissocial, mas não foi identificada esquizofrenia”, diz o irmão. Como foi esse tratamento relâmpago? O que impediu esse profissional que cuidou dele de ser mais atencioso e oferecer um acompanhamento mais longo? Enfim, lamentável... Acho necessário que invistam em Saúde Mental. O que é feito nesse sentido no Brasil e em especial no dia-a-dia da escola, lugar de formação? Muito pouco.
    Se Wellington tivesse recebido apoio de especialistas (psicólogos,psiquiatras etc) dentro da escola, será que mudaria algo?... Disponibilizar mais profissionais de apoio à educação (Psicólogos Educacionais, Psicopedagogos, Orientadores Educacionais)dentro das escolas públicas ou privadas, poderia ajudar num processo preventivo?... E que nossos governantes possibilitem que possamos encontrar nos postos de saúde um profissional disponível e capaz de oferecer um tratamento psicológico com acompanhamento constante. 5 sessões não bastam...

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  3. Ótimo texto Juliana e bem lembrado, o livro Mentes Perigosas retrata bem o comportamento dele, mas o que mais me intriga é essa relação Piscopatia x Fanatismo religioso, é comum suicídios, assassinatos em massa, ter essa referência religiosa e delirante.
    Ele era um doente mental sem tratamento, não fazia nenhuma distinção da realidade, e pra mim faltou um olhar da própria família em direção a vários sinais que ele vinha tendo desde a infância e a adolescência, como introversão e isolamento pessoal, fato.
    Tudo muito triste e lamentável, agora mais do que nunca é preciso tomar uma iniciativa séria, agora é hora das autoridades públicas, psicanalistas, filósofos, religiosos, educadores, todos, se engajarem para uma solução e a curtíssimo prazo, não podemos mais deixar que um fato terrível como esse venha se repetir, chega de conviver com essa sensação de impotência e angústia.

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  4. Eu acompanho sempre seu blog e me deram um Selinho de presente e temos q indicar alguns blogs pra receberem esse selo tb

    indiquei o seu passa la no meu blog e ve ^^

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  5. Oi Ju,, precisa sim...
    eh so fazer como fiz...
    bota o selo e em baixo responde as perguntas e indica os blogs q quiser pra receber o selo tb ^^

    Bju

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  6. Oi Juliana, adorei este texto "Mentes Perigosas", pois vim ver-te somente hoje depois de participares do meu Blog. Então este assunto me chamou a atenção, me interessa muito pois estudava Psicologia e além do que o meu Livro "A Leitura do Pensamento" tem tudo a ver com psicopatia. Você está certa ao dizer que um deles "mora ao nosso lado". De repente vemos alguém com um comportamento que nos assusta, corremos pensando em egoísmos, falta de ética, etc. Nos afastanmos e "deixa prá lá". O comentário da Juliana bem diz, mais saúde mental e atenção dos profissionais da área.
    Obrigada. Sucessos!
    Mara.

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